Conto: "A Pergunta"




Tudo começou com um “era uma vez”. Foram apenas dois minutos de prosa entre a primeira cena e o primeiro impulso. A verdade é que havia muito mais coisa naquela pergunta do que a mera pergunta. Eram mil interrogações no espaço de uma. Era um “de repente” que lhe acorrentava a mente.

Nada antes, nem de longe, havia mostrado à cabeça de Lúcio que o seu avesso não era o avesso. O importante, dizia, era tão só a liberdade. E com isso ele vivia, se convencia e bradava aos seus aquilo que prometera jamais deixar de ser seu: “a anarquia dos sentimentos”.

Era Joana - aquela moça que vira contando estórias de amor. De forma irritante e até perturbadora, falava da alma e flutuava do “Era uma vez” ao “Felizes para sempre” como se aquilo fosse a próxima cena da vida de todos.

Era eu – pensava Lúcio - que compreendia, mais do que ninguém, a real faceta do amor (ou “as” facetas, como preferia). Sem pudores, sem barreiras, sem idéias pré concebidas. Uma ode ao naturalismo e à franqueza com o que sentimos. Sinceridade como sinônimo de amor.

Aconteceu que – por aquelas coisas que te fazem acreditar em destino – o “Natural” encontrou a “Iludida”, e quase que naturalmente cresceu a paixão entre um extremo e outro... Quase. Não fosse a intenção natural do Natural desiludir a Iludida.

Era amor aquilo que os unia – pela música, pela literatura, pela alegria. E era amor aquilo que os separava – dele, plural; dela, singular.

Se ela(e) a(o) amasse, a(o) aceitaria como ele(a) é.”

Sou eu que preciso inibir o meu corpo e frear a minha mente por um outro alguém? Sou eu que devo incriminar o meu amor?

A verdade é que havia uma certeza escondida entre as mil interrogações:

Sou Joana quando penso em nós dois. Sou completo. E que amor é amor se machuca aquele que ama? Não é o respeito a maior forma de amor?

Afinal, você não tem uma alma. Você é uma alma. Somente tem um corpo.

Sou nós.

.  .  .

E foram apenas dois minutos de prosa entre a primeira cena e o primeiro impulso. Antes do fim da estória, Lúcio enxergara o “Felizes” em sua história... ao lado de Joana.

E haviam muitas certezas naquela pergunta.

- Namora comigo?

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